Prof.Marcelo Castro

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De uma forma geral, buscando a compreensão do todo, valorizando as partes e defendendo os menos favorecidos.

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História do Pensamento Geográfico

A CONSTITUIÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

A Alemanha aparece como berço da sistematização geográfica, onde a questão espacial era fundamental. A necessidade do domínio e organização do espaço, a própria constituição do território advindas das relações do campo aliadas ao “capitalismo Agrário”, como também na organização política que se forma no decorrer do século XIX, com a constituição do Estado-nacional alemão, resulta nas condições que permitiram avanços no pensamento geográfico para as classes dominantes no inicio do século XIX. Moraes (1988 p.46) afirma que: Este ideal de unidade vai ter sua primeira manifestação concreta com a formação, em 1815, da “Confederação Germânica”, que congregou todos os principados alemães e os reinos da Áustria e da Prússia. Apesar de não constituir ainda uma unificação nacional, estabeleceu maiores laços econômicos entre seus membros, com o fim dos impostos aduaneiros entre eles. È dentro desta situação que se pode compreender a eclosão da Geografia. Temas como domínio e organização do espaço, apropriação do território, variação regional, entre outros estarão na ordem do dia na pratica da sociedade alemã de então. É sem duvida, deles que se alimentará a sistematização geográfica.
Embora lançando raízes históricas ao longo dos séculos, somente no Século XIX que a Geografia começou a usufruir o status de conhecimento organizado, penetrando nas universidades.
Os estudiosos, no século XVIII, procuraram dividir a ciência em vários ramos; porém segundo Andrade (1989, p.11): […] o conhecimento científico não pode ser compartimentado, ele é um só, e a divisão das ciências é apenas uma tentativa de compatibilizar a vastidão deste conhecimento com a capacidade de acumulação de conhecimentos pelo homem. Intelectuais como Kant e Comte são notados pelas suas classificações científicas; contudo, as ciências humanas (com exceção da Sociologia) foram excluídas das suas classificações, inclusive a Geografia, que ‘só conquistaria a posição de ciência autônoma nas últimas décadas do século XIX’.

O QUE É GEOGRAFIA?
Há muitas definições ate então para a geografia, porém alguns autores vão definir a Geografia como o estudo da paisagem, ou seja, o estudo dos aspectos visíveis do real, da individualidade dos lugares, estudo da diferenciação de áreas ou ainda, como estudo do espaço . Porém o positivismo entendido aqui como o conjunto das correntes não dialéticas, onde os estudiosos que seguem vão buscar suas orientações gerais centrados no patamar que alavanca o pensamento geográfico tradicional.

O Determinismo Geográfico
Geografia Tradicional, o Determinismo nasceu com os primeiros rudimentos sobre aspectos e fenômenos que viriam a ser objeto da Geografia tradicional. A forma inicial do determinismo esteve ligada à relação entre clima e homem. Na história do pensamento geográfico é quase unânime o estabelecimento do marco inicial da Geografia Moderna na publicação das obras de Alexandre Von Humboldt e Karl Ritter como pioneiros do processo da sistematização geográfica (MORAES, 1989, p.15). Tratava-se de uma constatação da relação natureza – homem, onde esta primeira determinava o modo de vida e o desenvolvimento intelectual das pessoas, que era estabelecida conforme essa corrente do pensamento, de acordo com clima, ou seja região do planeta em que habitava. Os povos das regiões quentes são tímidos como os anciãos; os das regiões frias são corajosos, como os jovens [...] Ter-se-á nas regiões frias pouca sensibilidade para os prazeres; ela será maior nas regiões temperadas ; nas regiões quentes será exagerada. Os indianos são naturalmente sem ânimo; os próprios filhos dos europeus nascidos nas índias perdem o que é próprio de seu clima (MORAES, 1989, p.16).

A Disciplina Geografia
A Geografia aparece como uma disciplina de observação conhecida nesse período como “empirismo raciocinado” obedecendo a uma observação sistemática onde o geógrafo contemplaria a paisagem sem ir além das aparências. Do clima dependeriam não somente os costumes bem como o que regularia a política, servindo de suporte inclusive para o fenômeno da colonização de determinadas regiões do planeta, que historicamente serviram aos países europeus. Para Montesquieu (1962, p.253-266): Não devemos, pois, espantar que a covardia dos povos de clima quente, os tenha quase sempre, tornados escravos, e que a coragem dos povos de climas frios tenha mantido livres. È uma conseqüência que deriva de sua causa natural.
Levando em consideração que a ciência é à busca da comprovação do fato, a maturação das condições históricas, materiais e sociais para a existência da sistematização da ciência, a geografia aparecia como uma disciplina que se preocupava com a conexão entre os elementos, buscando a causalidade existente na natureza. A paisagem causaria no observador uma “impressão”, a qual, combinada com a observação sistemática dos seus elementos componentes, e filtrada pelo raciocínio lógico, levaria a explicação: à causalidade das conexões contidas na paisagem observada (MORAES, 1988, p.48). A busca da articulação entre natureza e sociedade não foi tarefa fácil para os geógrafos. Na verdade, construir uma ciência de articulação na época em que surgiu oficialmente a geografia pareceria ser como remar contra a maré, pois nesse período a visão de ciência dominante privilegiava a divisão entre ciências da natureza e da sociedade.

Alexandre Von Humboldt e Karl Ritter
Alexandre Von Humboldt entendia a geografia como a parte terrestre da ciência do cosmos, parecendo uma síntese de todos os conhecimentos relativos a Terra. Em termos de método, propõe o que chamou de “empirismo raciocinado”, ou seja, a intuição a partir da observação. Humboldt possuía uma formação de naturalista (botânico e geólogo) e realizou inúmeras viagens percorrendo a Europa, a Rússia asiática, o México, a América Central, a Colômbia e a Venezuela, observando os fenômenos físicos e biológicos; seus trabalhos são todos de natureza científica, sem qualquer finalidade pedagógica. Sua proposta de geografia aparece na justificativa e explicitação de seus próprios procedimentos de análise. De acordo com Moraes (1988, p.47): Humboldt entendia a Geografia como a parte terrestre da ciência do cosmos, isto é, como uma analise de síntese de todos os conhecimentos relativos á Terra. Caberia ao estudo geográfico: ’reconhecer a unidade na imensa variedade de fenômenos, descobrir pelo livre exercício do pensamento e combinando as observações, a Constancia dos fenômenos em meio as suas variações aparentes’. Apesar de naturalista, Humboldt mostra também grande curiosidade pelo homem e pela organização social e política dos territórios, “achando que há uma grande relação entre estas e as condições naturais” (PEREIRA, 1993, p.117). Em sua obra Ensaio Político sobre o Reino da Nova Espanha, considerada a primeira verdadeiramente geográfica no sentido moderno, comprova seu interesse em relacionar a sociedade e o meio onde ela se estabelece. Além do princípio de causalidade, Humboldt aplicou o chamado princípio de geografia geral, ou seja, nenhum lugar da Terra pode ser estudado sem o conhecimento do seu conjunto, sendo que um fenômeno verificado em determinada região pode ser generalizado para todas as outras áreas do globo com características semelhantes. Na visão de Martonne (1953, p.13): A aplicação deste princípio é o desmoronamento definitivo da barreira que separa a Geografia Regional da Geografia Geral, a aproximação destes dois ramos duma mesma ciência e a sua recíproca fecundação. No dia em que foi compreendida a significação de tudo isso nasceu a Geografia moderna. A obra de Karl Ritter (filósofo e historiador) é basicamente metodológica definindo o conceito de “sistema Natural”, ou seja, uma área delimitada dotada de uma individualidade, uma vez que caberá a geografia explicar a individualidade desses sistemas, pois nesta denota o desígnio da divindade ao criar aquele lugar específico. Por estas razões antropocêntricas (homem é o sujeito da natureza) e regional (estudo individualizado) valoriza as relações homem-natureza. Desta forma, conforme Moraes (1988, p.48): A meta seria chegar a uma harmonia entre a ação humana e os desígnios divinos, manifestos na variável natureza dos meios. Para Ritter a ordem natural obedeceria a um fim previsto por Deus, a causalidade da natureza obedeceria à designação divina do movimento dos fenômenos. Mesmo tratando-se de constatações e objetos de estudo diferentes a s teorias aparecem como fundamentos inquestionáveis de uma geografia unitária, que ganha em determinado momento um caráter institucional, principalmente na formação de cátedras, nascendo contudo a geografia nas universidades, criando assim, uma linha de continuidade do pensamento geográfico antes não existente. A influência de Humboldt e Ritter foi, portanto, decisiva para conferir à Geografia o seu verdadeiro caráter científico. “Os dois sábios alemães, de diferentes formações, davam origem a uma nova ciência de cuja existência certamente não suspeitavam ao iniciarem as suas reflexões” (ANDRADE, 1989, p.13). Esses autores ajudam a manter aberta uma via de discussão teórica do pensamento geográfico, na Alemanha; nos outros países da Europa, a Geografia seguia constituída de levantamentos empíricos e enumerações exaustivas sobre os diferentes lugares da Terra.

A Antropogeografia
A Antropogeografia de Ratzel Caracterizado pelo empirismo por meio da análise pela observação e descrição, a obra de Friedrich Ratzel representou um papel fundamental no processo de sistematização da Geografia moderna. Este apresenta a primeira proposta explicita de um estudo dedicado à discussão dos problemas humanos. A análise das relações, entre o Estado e o espaço, foi um dos pontos privilegiados da Antropogeografia. Para Ratzel, o território representa as condições de trabalho e existência de uma sociedade. A perda de território seria a maior prova de decadência de uma sociedade (MORAES, 1988, p.56). A Geografia proposta por Ratzel privilegiou o elemento humano, e abriu várias frentes de estudo, valorizando questões referentes à História e ao espaço, como: a formação dos territórios, a difusão dos homens no globo (migrações, colonizações etc..) a distribuição dos povos e das raças na superfície terrestre, o isolamento suas conseqüências, além de estudos monográficos das áreas habitadas. Tendo em vista o objeto central que seria o estudo das influências, que as condições naturais exercem sobre a evolução das sociedades.
A tardia unificação da Alemanha caracteriza o momento histórico vivido por Ratzel, alimentava um expansionismo do estado alemão, servindo como estimulo para sua obra onde repensava o espaço . É fácil observar a intima vinculação entre essas formulações de Ratzel, sua época e o projeto imperial alemão. Esta ligação se expressa na justificativa do expansionismo como algo natural e inevitável, numa sociedade que progride , gerando uma teoria que legitima o imperialismo bismarckiano (MORAES, 1988, p.56) Conceitos importantes como Território e Espaço Vital surgem, onde neste manifestaria a necessidade territorial de uma sociedade, tendo em vista uma relação entre a população e seus recursos, assim como a guerra, a violência e a conquista como justificativa para a reprodução de determinadas sociedades.

O Possibilismo Geográfico
Aparece na França, no século XIX em oposição ao determinismo e a antropogeografia, Paul Vidal de La Blache a partir de críticas surge uma geografia com uma nova visão, contrapondo-se as enumerações exaustivas e os relatos de viagem. A proposta de Geografia apresentada por ele consiste na relação homemnatureza na perspectiva da paisagem onde o homem como ser racional é que modifica o meio onde ele vive de acordo com suas necessidades e a natureza serve para possibilitar tais necessidades. Observou que as necessidades humanas são condicionadas pela natureza, e que o homem busca as soluções para satisfaze-las nos materiais e nas condições oferecidas pelo meio. Nesse processo de trocas mutuas com a natureza, o homem transforma em a matéria natural, cria formas sobre a superfície terrestre: para Vidal é aí que começa a obra geográfica do homem (MORAES, 1988, p.48).
O pensamento geográfico francês nasceu com a tarefa de deslegitimar a reflexão geográfica alemã, uma vez que ao rejeitar o determinismo ambientalista, seu ponto de vista denominado de possibilismo, mas não queria dizer que o homem é um agente livre para quem tudo é possível. Reconheceu plenamente que a escolha do homem é severamente limitada pelo sistema de valores de sua sociedade, sua organização, tecnologia, em suma pelo que chamava modo ou gênero de vida do homem. A Geografia Regional representou a reafirmação de que os aspectos próprios da Geografia eram o espaço e os lugares. Os geógrafos regionais dedicaram-se à recolha de informação descritiva sobre lugares, bem como aos métodos mais adequados para dividir a Terra em regiões. As bases filosóficas foram desenvolvidas por Vidal de La Blache e Richard Hartshorne. Para Vidal, a região como uma determinada paisagem, onde os gêneros de vida determinam a condição e a homogeneidade de uma região, Hartshorne não utilizava o termo região: para ele os espaços eram divididos em classes de área, nas quais os elementos mais homogêneos determinariam cada classe, e assim as descontinuidades destes trariam as divisões das áreas. E este ficou conhecido como método regional. Outro ponto defendido por ele foi de região, como sendo uma unidade de análise geográfica, que exprimiria a própria forma dos homens organizarem o espaço terrestre. Não seria apenas um dado teórico de pesquisa, mas também um dado da própria realidade. A função do geógrafo seria delimitá-la, descrevê-la, e explicá-la.
Paul Vidal de La Blache Considerado o fundador da geografia francesa moderna e da corrente francesa de geografia humana, marcou uma nova visão da geografia, combatendo o pensamento geográfico determinista de alguns autores, para enfocar uma forma mais humanizada, relativizada e detalhada dos estudos geográficos, tendo na Geografia Regional sua principal objetivação. La Blache criou uma doutrina , o possibilismo, e fundou a escola francesa de Geografia. E, mais, trouxe para a França o eixo da discussão geográfica , situação que manteve-se durante todo o primeiro quartel do século atual (Moraes, 1988, p.73). A natureza então encarada como uma fornecedora de possibilidades para a modificação humana, e não determinando sua evolução, sendo o homem o principal agente geográfico. La Blache também redefine o conceito de gênero de vida, herdado do determinismo: trata-se não mais de uma consequência inevitável da natureza, mas de “um acervo de técnicas, hábitos, usos e costumes, que lhe permitiram utilizar os recursos naturais disponíveis” (CLAVAL, 1974 apud CORRÊA, 1991, p.

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